Cabral e o autoritarismo

Olha, a revolta é muito grande, eu nem tenho palavras pra descrever o sentimento de raiva que sinto. É deprimente ver a que ponto regrediu as relações do governo de Sérgio Cabral e o movimento sindical/operário: voltou a ser caso de polícia.
O episódio mais recente foi a da ocupação do Quartel Central do Corpo de Bombeiros, na Praça da República, por cerca de 2 mil bombeiros e seus familiares na última sexta-feira. No sábado pela manhã, o governador ordenou a invasão do Quartel por parte do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Houve um ataque desproporcional por parte dos policiais, o que obrigou muitos BMs a reagirem. O confronto foi generalizado, inclusive com disparos de armas de fogo. O saldo foi a prisão de 440 pessoas (439 bombeiros e 1 policial militar), que foram levadas para a Corregedoria da Polícia Militar, em São Gonçalo.
Ao longo do dia, acompanhei estarrecido o desenrolar da situação. O governador, depois de horas em reunião, foi à TV, e em uma patética coletiva, condenou a atitudes dos bombeiros, chamando-os de "irresponsáveis" e "vândalos". Afirmou ter feito inúmeros investimentos no setor - apesar dos 950 reais líquidos recebidos pelos bombeiros - e ainda disse que a região serrana do estado está sendo recuperada. Resta saber de que forma...
Hoje, domingo, os parentes dos PRESOS POLÍTICOS confirmaram à mídia que os mesmos estavam presos nos ônibus, sem água, comida e banheiro. A própria Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ se dispôs a acompanhar o caso dos bombeiros presos.
Toda essa situação mostra o viés AUTORITÁRIO do ESTADO POLICIAL montado pelo governador Sérgio Cabral, 26 anos após o fim da ditadura militar. Inúmeros protestos pacíficos e movimentos grevistas foram reprimidos à BOMBA e à BALA, mostrando a total indiferença do governo estadual em relação às reivindicações da sociedade e dos servidores públicos.
Para demonstrar isso, abordarei três das principais movimentações que foram dissolvadas pelo uso desproporcional da força promovido pela polícia de Sérgio Cabral:

1 - Protesto dos professores nas escadarias da ALERJ, setembro de 2009
Professores do estado protestavam contra a política salarial promovida pelo governo do estado, quando foram atacados pelo BATALHÃO DE CHOQUE da Polícia Militar. Educadores foram atingidos por tiros de balas de borracha e por estilhaços de bombas. Seis vítimas foram levadas para o Hospital Souza Aguiar.


2 - Prisão de manifestantes contra a visita de Barack Obama, março de 2011
13 pessoas que participavam de protesto contra a visita do presidente ianque Barack Obama foram presas, após ato realizado em frente ao Consulado dos EUA. A alegação foi de que um segurança do consulado foi atingido por um coquetel molotov. O problema é que nenhum jornalista presente conseguiu flagrar quem lançou a bomba caseira. Depois, como provas do "crime", a Polícia Civil apresentou cartazes, camisas e bandeiras, numa atitude semelhante aos dos órgãos de repressão do regime militar.
Os militantes ficaram conhecidos como os "Presos do Consulado".

O protesto reprimido pela PM. (Evelson de Freitas/AE)
As provas do crime. A Polícia não esclareceu quem estava com os objetos apreendidos. (Alexandre Brum/O Dia)
Os presos políticos sendo transferidos da 5ª DP (Gomes Freire) para o presídio de Água Santa. (Autoria desconhecida)

3 - Invasão do Quartel Central dos Bombeiros e prisão dos manifestantes, junho de 2011

Ocupação do Quartel do CBMERJ, no dia 3 de junho. (Autoria desconhecida)
Invasão do BOPE ao quartel, manhã do dia 4 de junho. (Ernesto Carriço)
Rendição dos bombeiros. (Autoria desconhecida)
Bombeiros presos na corregedoria da PM, em São Gonçalo. (Marcelo Carnaval)
QUALQUER SEMELHANÇA COM A DITADURA MILITAR NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

Protesto pela anistia na Câmara dos Deputados, década de 70. (Arquivo Público de São Paulo)
Familiares dos bombeiros presos no Rio, 2011. (JB)
Manifestantes apanhando em protestos no Rio, 1968.
PM apontando pistola para professores em protesto no Rio, 2009. (Marcelo Piu)
Estudantes presos no congresso de Ibiúna, 1968.
Bombeiros sendo conduzidos à prisão em São Gonçalo, 2011. (Marcelo Carnaval)

Comentários

Carlos disse…
Por que o ato dos bombeiros cria um precedente perigoso

Os bombeiros assim como qualquer categoria têm o direito de pedir melhoria salarial, ocorre que por servirem junto com a PM, sob regime militar, lhes é vetado o direto à greve. Nos últimos dias o que tenho visto no Rio é um circo. Uma categoria que vem sendo “doutrinada” por políticos faz meses, chega ao ponto de rasgar sua lei militar, invadir um quartel, ocupar e inutilizar viaturas.
Ora, isso é inadmissível em um estado de direito. Imaginemos se médicos decidem fazer greve, invadir hospitais, furar pneu das ambulâncias e trancar as portas; E se um dia policiais em greve ocuparem os presídios e ameaçarem soltar os presos? Não obstante, teríamos ainda a possibilidade de Soldados do exército em greve, colocarem tanques para obstruir vias. Pergunto: Onde a sociedade vai parar? É esse o precedente que a sociedade deseja abrir com os bombeiros?
Para que não corramos esse risco há uma legislação militar que rege as FFA, Bombeiros e a PM. Independente de qualquer pleito salarial, ela tem de ser respeitada. No momento em que a sociedade permitir que essa lei seja ignorada, estará pondo em risco sua própria ordem.