Darcy Ribeiro, fotógrafo

Dois mil negativos do antropólogo com alto valor artístico são descobertos no acervo do SPI e viram exposição












Foto de Berta Ribeiro

Karla Monteiro
Milton Guran achou um tesouro. Foi assim: em agosto, o fotógrafo e antropólogo recebeu um convite do Museu do Índio para fazer a curadoria da mostra “Primeiros contatos - Atrações e pacificações do SPI”. Para tal missão, teria que fuçar o arquivo de mais de 20 mil fotografias do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão que antecedeu a Funai. Mexe e remexe, Guran se deparou com um belíssimo material - cerca de dois mil negativos - que chamou a sua atenção. O autor? Darcy Ribeiro. Extasiado com a descoberta, ele trabalhou freneticamente para montar a exposição “O olhar preciso de Darcy Ribeiro”, que abre segunda-feira na Caixa Cultural. O próximo passo é um livro, previsto para 2011.
- Encontrei um conjunto de fotos de autoria do Darcy perdido entre milhares de documentos. São fotos excepcionais. Já trabalhei na Funai e já trabalhei no Museu do Índio, que hoje guarda o arquivo do SPI. E nunca soube da existência dessas fotos – diz Guran. - O Darcy foi um antropólogo, um educador, um romancista, um político. Mas o que nos interessa é o brasileiro que pensou o Brasil. O importante nas fotos é o olhar dele.
Mostrando cópias das 50 fotos selecionadas para exposição, Guran se admira com a excelência, a beleza, a humanidade do trabalho:
- Está aqui o olhar instrumentalizado da antropologia, que busca indicativos da construção da cultura. Mas o Darcy extrapolou isso. Ele estabeleceu uma ligação fraterna, de igual para igual, com os índios. Trata-se de uma fotografia humanista. Um diálogo visual do Darcy com os seus amigos.
A exposição “O olhar preciso de Darcy Ribeiro” faz parte da série de eventos “Brasilidade”, capitaneada pelo Ministério da Cultura. A fotos que integram a mostra foram tiradas entre 1947 e 1951, em três comunidades indígenas: kadiwéu, urubu-ka”apor e oafayé. Na tribo dos kadiwéu, o antropólogo realizou a sua primeira pesquisa de campo, como etnólogo do SPI. Com os urubu-ka”apor, trabalhou por dois anos, em duas grandes expedições. Entre os oafayé, ficou só um mês, mas produziu o único registro fotográfico histórico dessa tribo, hoje com apenas 60 representantes.
O acervo do SPI tem uma importância extraordinária, tanto que em 2008 passou a integrar o programa Memória do Mundo, da Unesco. O trabalho do Darcy, além do valor documental, tem valor fotográfico - diz Guran.
oglobo.com.br/cultura

(Minisério da Cultura)

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