Vamos brincar de privatizar?

Um político corrupto explica seus esquemas.

Vamos brincar de privatizar? Então começamos.
Não sabe como se brinca? Tá bom, eu conto.
Antes de tudo, a gente se elege. Arrecadamos dinheiro de empreiteiras, empresas de ônibus, fabricantes de armas, indústrias farmacêuticas, faculdades particulares, fábricas de celulose, e quantas mais você imaginar. Você ainda vai pensar que isso é lobby, mas não é. Isso se chama política.
Com a grana forte desses doadores, a gente faz uma grande campanha. Placas, cartazes, galhardetes, santinhos, fotos modificadas em photoshop, jingles que fazem lavagem cerebral em qualquer um. Chamaremos marketeiros, músicos, analistas, tudo. A gente vai deixar tudo no esquema. Faremos alianças com candidatos nos bairros e cidades, visitaremos as favelas, pegaremos crianças catarrentas no colo, tomaremos cachaça, comeremos pastel e caldo de cana.
Enquanto isso, os institutos de pesquisa vão colocar a gente lá em cima, bem colocados, e com isso, ganharemos muito espaço na mídia.
Também pediremos apoio de líderes religiosos, sindicatos, intelectuais, artistas, um monte de gente que vai falar "nesse eu confio e voto, você pode confiar também".
Depois disso, pra vitória é um pulo. A gente ganha, e começa a festa.
Primeiro a gente cria um monte de cargos de confiança, pra colocar candidatos derrotados, gente de destaque e alguns daqueles artistas e intelectuais. A gente incha a máquina, afinal, quem paga é o povo mesmo né? Coloca os amigos, indica parentes, correligionários, e até mesmo alguns adversários políticos, pra calar um pouco a boca deles...
Aí não tem a empresa de ônibus, de trens, a empresa de lixo, de água, as empresas públicas? A gente privatiza!
Reduzimos as verbas, sucateamos seus equipamentos e pioramos seus serviços. A gente coloca a turma toda do partido lá, mesmo que seja um médico na direção de uma empresa de transportes. Afinal, ele é nosso amigo, não é? O povo? Que se dane o povo!
A gente vai piorar a gestão, e as pessoas vão começar a comparar nosso serviço com o das empresas particulares. Vão ver que o ônibus é melhor, a escola, o hospital...
Quando a coisa tiver bem ruim, quando o povo não tiver mais agüentando, a mídia e a opinião pública pressionando, a gente vai dar um jeito. Lembra daquele pessoal que nos deu dinheiro? A gente tem uma dívida com eles, pois nos colocaram no poder, ajudaram na campanha.
A gente pega a empresa pública e privatiza! Pronto! A empresa estará tão ruim, mas tão ruim, que venderemos baratinho! E aí a gente vende num pregão, entrega nas mãos deles, e tudo estará feito. Não deveremos mais nada!
Claro, que por fora ganharemos o nosso... Ou então a gente faz o seguinte: formamos uma concessionária, e nós venderemos a empresa pra nós mesmos! Formidável! O povo vai achar que tudo vai melhorar, mas tudo vai continuar na nossa mão! A gente pode até pedir empréstimo para um banco público, e pagar em 20 ou 30 anos. Não é maravilhosa a minha idéia!
Olha, eu já fiz isso com os trens, com os ônibus, metrô, as barcas, as estradas, a empresa de energia elétrica, até com a empresa telefônica! Nesse mandato a gente vai botar pra quebrar!
E eu ainda tenho uma ambição maior: a educação e saúde. Já que a educação está caótica, a vende as universidades, e só estuda lá quem quiser. Vamos privatizar os hospitais, quem ficar doente paga uma pequena taxa e pronto. Só que o povo vai continuar pagando os impostos. O dinheiro que a gente economizar, gastaremos em placas e asfalto, ou melhor: aumentaremos os nossos salários. Não existirá mais servidor público mesmo...

A eleição está aí, dia 5 de outubro.
Pense (e muito) antes de digitar seu voto na urna.

Comentários

Anônimo disse…
Cara, você está de parabéns!
Simplesmente fenomenal esse seu texto! Falou pouco e disse TUDO sobre a safadeza dessas privatarias feitas aqui no Brasil!
Esse texto será divulgado para que todos possam ler, pensar a respeito e sobretudo aprender!
Um abraço. Continue assim!
Anônimo disse…
Muito bom!!!