O triste futuro de nossas crianças...

Na semana passada, ao parar para fazer um lanche, me deparei com uma cena que infelizmente vem se tornando comum a cada dia: um menino negro, pequeno, com uma caixa de doce na mão. Ele não pedia dinheiro, nem muito menos que comprassem os doces que vendia.
Com os olhos miúdos, aquele menino pediu para “o tio” comprar alguma coisa pra ele, porque tinha fome. Pedi um sanduíche a mais e dei para o menino, que agradeceu e sem cerimônia desembrulhou o lanche e saiu comendo.
Fiquei comendo e pensando naquela criança. Poderia estar na escola, estudando, brincando com outros colegas, lendo, jogando bola, soltando pipa... Mas não. Ela estava na rua vendendo doces e pedindo comida.
Até quando no nosso país veremos inúmeros brasileirinhos, negros, brancos, mestiços e índios, tendo seu futuro roubado? Roubado pela exploração, pelo desemprego, fome, miséria e falta de educação.
Quando digo isso, me vem na memória os CIEP’s, ou falando na linguagem do povo, os brizolões, criados pelos mestres Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, que hoje estão abandonados. Sempre quando passo na frente de um brizolão, eu lembro que quando era pequeno jogava bola em um no Cesarão, onde minha avó e tios moram, e também quando buscava minha irmã menor no CIEP do bairro onde moro, que é um dos poucos que ainda seguem o projeto educacional de Darcy.
Depois que Brizola saiu do governo, teve CIEP virando quartel de bombeiros (nada contra, mas não poderia ser em outro lugar?), favela, e vejam só, boca-de-fumo. Isso mesmo, tem brizolão que virou ponto de venda de drogas. Lembro que tinha até brizolão com piscina, mas algumas foram aterradas porque “os custos de manutenção eram altos”. Preferem privar crianças do lazer e guardar o dinheiro pra obras eleitoreiras.
É aquela velha história: param um projeto anterior só porque não foi iniciado pelo grupo político que “toma posse” do poder. Não querem nome dos outros na placa. E falando em placa, não é que tiraram o nome de Darcy e Brizola da Biblioteca Pública do Rio de Janeiro? Mas alguém pode dizer “ué, o nome caiu!”. Mas o nome da Biblioteca continua inteiro, faltando apenas os nomes Leonel Brizola e Darcy Ribeiro embaixo das palavras “governador” e “vice-governador”. Estranho isso...
Quando falo de Darcy e Brizola, falo com emoção. Falo de um projeto educacional que espalhou escolas pelas favelas e morros, nos bairros chiques, na capital e no interior, sem distinções, porque todos merecem ter a mesma oportunidade. Escola pública com educação integral, refeições balanceadas, atendimento médico e odontológico, acompanhamento pedagógico. As crianças tomando café e almoçando na escola, e levando pão e leite pra casa no fim do dia.
Isso não é uma utopia distante, isso já foi realidade. E por que tudo está parado? Será que não querem admitir que os homens estavam certos somente por divergências políticas, orgulho ou até mesmo inveja?
Continuo batendo na mesma tecla: dinheiro pra educação não é gasto, é investimento. Em vidas humanas, em sonhos, em realizações, em um futuro melhor. Futuro para crianças que sonham em ser médicos, professores, advogados, jogadores de futebol, artistas, e que hoje, quando olham pra frente, vêem apenas uma fileira de carros parados em um sinal sob o sol quente do Rio de Janeiro.

Comentários

Anônimo disse…
Olá companheiro Guilherme, compartilho do mesmo sentimento de indignação perante o descaso com a educação em nosso país.Sou estudante de graduação em biblioteconomia na UNIRIO e pretendo abordar esse tema em minha monografia,visto que precisamos dar notoriedade para essas injustiças.pretendo investigar o sucateamento das bibliotecas escolares dos CIEP`S.Desde já te parabenizo pelo artigo e espero que continue lutando por melhorias ne educação brasileira. FORÇA SEMPRE!!!!